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Blog da Clínica Brasil

Pensando em cuidar da sua saúde, trouxemos uma série de conteúdos, para você entender melhor sobre sintomas e doenças que afetam o organismo. Não se esqueça de agendar uma consulta com um médico especialista!

Bebidas Adulteradas e Metanol: Entenda os riscos

A imagem mostra copos com bebidas em um balcão. Um dos copos está sendo cheio com a bebida.
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O metanol é um composto químico pertencente à classe dos álcoois, com fórmula molecular CH3OH. É um líquido incolor, volátil, inflamável e tóxico, utilizado amplamente como solvente, combustível e matéria-prima na indústria química. Também é conhecido como álcool metílico. Foi originalmente obtido por destilação da madeira, o que lhe rendeu o nome "espírito da madeira", embora hoje seja produzido principalmente pela reação de monóxido de carbono com hidrogênio (síntese catalítica). Nos últimos dias, quadros graves de intoxicação por metanol e mortes causadas pela contaminação do composto em bebidas adulteradas como gim, uísque e vodca tomaram conta dos veículos de comunicação, levantando vários questionamentos: A substância está presente em outras bebidas e alimentos consumidos no dia a dia? Quais são os sintomas da intoxicação por metanol? Tem tratamento?

Onde o metanol está presente: 

O metanol está presente em pequenas quantidades em alguns alimentos e bebidas consumidas no dia a dia, mas em níveis naturalmente baixos que, geralmente, não representam risco à saúde.

Frutas e vegetais

  • Frutas como maçãs, bananas, uvas, laranjas e tomates contêm pectina, uma substância que, durante a digestão, pode liberar metanol.

  • Esse metanol é produzido naturalmente durante o metabolismo das fibras.

Bebidas alcoólicas

  • Bebidas como vinho, cerveja e especialmente destilados caseiros ou artesanais podem conter traços de metanol.

  • Em bebidas comerciais e regulamentadas, os níveis de metanol são controlados por legislação, sendo seguros para consumo.

  • O perigo do metanol está principalmente presente em bebidas alcoólicas falsificadas ou produzidas ilegalmente, onde o composto pode aparecer em quantidades tóxicas.

 Alimentos processados

  • Alimentos que usam adoçantes artificiais como o aspartame, presente em alguns refrigerantes e produtos de baixo teor calórico, ‘‘diet’’ ou ‘‘zero’’,  liberam pequenas quantidades de metanol quando metabolizados. Mas esses níveis são baixos e considerados seguros por autoridades de saúde e regulações de alimentos como a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) e a FDA (Food and Drug Administration), responsável pela regulamentação e fiscalização de diversos produtos nos EUA, desde alimentos até medicamentos. 

Pequenas quantidades de metanol, como as que vêm de frutas, vegetais ou aspartame, são metabolizadas lentamente e em doses mínimas das quais o corpo consegue eliminar o ácido fórmico sem causar danos. O sistema tamponante do organismo, responsável por garantir que o pH do sangue fique em uma faixa ideal e os rins lidam bem com essas quantidades.  A intoxicação ocorre quando há exposição ao metanol em quantidade suficiente para causar efeitos tóxicos no organismo, especialmente quando isso leva ao acúmulo dos seus metabólitos (formaldeído e ácido fórmico), resultando em sintomas clínicos e alterações laboratoriais.

Estágios e Sintomas da Intoxicação por Metanol

Fase de latência (0 a 06 horas)

  • Sintomas: assintomático ou leves sintomas semelhantes ao de uma “ressaca”; 

  • Náuseas, tontura, dor de cabeça leve;

O metanol ainda não foi metabolizado em ácido fórmico. O álcool, se presente, retarda esse metabolismo.

Fase inicial de toxicidade (06 a 12 horas)

Sintomas:  

  • Náuseas, 

  • Vômitos;

  • Dor abdominal;

  • Fraqueza, confusão mental;

  • Tontura, falta de coordenação.

O metanol começa a ser convertido em formaldeído e depois em ácido fórmico, que começa a se acumular.

Fase visual e metabólica (12 a 24 horas)

Sintomas:

  • Visão embaçada;

  • Visão de ''neblina'' ou "ver neve";

  • Fotofobia;

  • Cegueira parcial ou total;

  • Respiração rápida (taquipneia);

  • Dor torácica;

O ácido fórmico se acumula no sangue, causando acidose metabólica grave e toxicidade no nervo óptico.

Fase crítica (24 a 72 horas)

Sintomas

  • Coma;

  • Convulsões;

  • Hipotermia;

  • Pressão arterial baixa;

  • Parada respiratória;

  • Morte se não houver tratamento;

A acidose piora, levando à falência múltipla de órgãos. O dano ao sistema nervoso central e ao coração se agrava. 

Caso haja observação de algum desses sintomas após o consumo de bebidas alcoólicas como uísque, vodca ou gim, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente. O tratamento da intoxicação em sua fase inicial é essencial para minimizar possíveis complicações e reverter danos.

Tratamento da intoxicação por metanol

 

1.Suporte inicial

  • Garantir vias aéreas desobstruídas, respiração e circulação.

  • Corrigir desidratação e problemas eletrolíticos.

  • Monitorar sinais vitais e estado neurológico.

2. Inibição da metabolização do metanol

O objetivo principal é bloquear a enzima álcool desidrogenase (ADH) para evitar que o metanol seja convertido em seus metabólitos tóxicos (formaldeído e ácido fórmico).

Medicamentos usados:

  • Etanol:

    • Competidor da ADH, inibe o metabolismo do metanol.

    • Pode ser administrado via oral ou intravenosa.

    • Precisa de monitoramento cuidadoso porque o etanol é tóxico em doses elevadas.
       

  • Fomepizol (4-metilpirazol):

    • Inibidor específico da ADH.

    • Preferido atualmente porque tem menos efeitos colaterais e não causa intoxicação alcoólica.

    • Administrado por via intravenosa.

3. Correção da acidose metabólica

  • Administração de bicarbonato de sódio para corrigir o pH sanguíneo e evitar danos celulares.

  • Monitoramento constante do equilíbrio ácido-base.

4. Eliminação do metanol e seus metabólitos

  • Hemodiálise: indicada para remover rapidamente o metanol e o ácido fórmico do sangue. Essencial em casos graves, quando há acidose severa, níveis elevados de metanol, ou sintomas neurológicos e visuais importantes.

5. Tratamento de suporte adicional

  • Correção de distúrbios eletrolíticos.
    Suporte ventilatório, se necessário.

  • Tratamento de complicações, como convulsões.

6. Monitoramento e acompanhamento

  • Avaliação oftalmológica para monitorar danos visuais.

  • Monitoramento dos níveis sanguíneos de metanol e dos gases sanguíneos.

  • Avaliação neurológica constante.

A intoxicação por metanol é uma situação que exige intervenção médica imediata, pois necessita de internação e cuidados intensivos.